Assassinatos de jovens no Brasil: uma epidemia de indiferença

Enterro do menino Italo, morto em ação da PM, em São Paulo  (Foto: Pedro Kirilos/Agência O Globo)
Enterro do menino Italo, morto em ação da PM, em São Paulo
(Foto: Pedro Kirilos/Ag. O Globo)

 

(Artigo Publicado na Revista Época On Line, em 02/07/2016)

O Brasil viveu recentemente o choque de ver crianças de 10 e 11 anos, em São Paulo, serem mortas em abordagem policiais que apresentam fortes indícios de uso desnecessário da força letal. Elas não foram as únicas a ter suas histórias tão drasticamente interrompidas. De acordo com os dados coletados pela Ouvidoria das polícias de São Paulo, desde 2010 até o dia 27 de junho, foram 191 crianças e adolescentes de até 16 anos mortas pelas forças de segurança do maior Estado do Brasil, o que equivale a cerca de dois casos por mês. Dez dessas mortes foram de crianças com menos de 14 anos.

Infelizmente, homicídio de crianças e adolescentes não é uma exceção no Brasil. O relatório Violência Letal contra as Crianças e Adolescentes do Brasil, divulgado no último dia 30 de junho, revela que o Brasil mata em média 29 crianças e adolescentes por dia. O país convive, tragicamente, com uma espécie de “epidemia de indiferença”, quase cumplicidade de grande parcela da sociedade e dos governos, com uma situação que deveria estar sendo tratada como uma calamidade social: a perda irreparável de vidas, principalmente de jovens e adolescentes, quase sempre negros, moradores de favelas e periferias.

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A classe média alta, que mais teme a violência, não é, portanto, a principal vítima. A sociedade está em negação. O racismo e os estereótipos negativos que prevalecem em relação aos moradores de favelas e periferias contribuem diretamente para a distribuição seletiva da justiça e da violência.

É ainda mais grave saber que as forças de segurança são responsáveis por uma parcela significativa desses homicídios.Uma realidade sem vencedores, todos perdemos: perde o sistema de justiça, que não dá conta, perde a polícia que está em guerra contra a sociedade, perde o chamado “cidadão de bem”, brutalizado pelo medo e perde a sociedade, que admite e alimenta a vingança em vez da justiça. Chegou a hora de dizer basta ao massacre que nos coloca entre os países que mais matam jovens no mundo.

Extermínio tolerado

Muito importante ter jornalistas como Fabíola Perez que não recuam em repetir a óbvia e dura realidade: no Brasil, o estado – com a autorização tácita de uma parte importante da sociedade (em geral aquela q tem mais acesso à informação e ao poder) – não apenas vem abandonando nossas crianças, mas sendo parte ativa do extermínio que a cada dia mata 28 crianças e adolescentes no Brasil. Não deixem de ler o artigo,  Extermínio tolerado.